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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Poema 84


Edward Hopper - Não sei o título

fragmentos de um estudo geracional (1)

I

somos nada além de jovens corações aos prantos
sobre a opressão da possibilidade, quando
tudo que se deseja desmorona e nos soterra
junto dos nossos medos e limitações aos montes.

II

ó mantos de sonhos; fulano te disse que você
podia ser o que quisesse se fosse atrás e nunca
desistisse, mas esqueceu de te dizer todo o resto,
das coisas ao redor, concretas e que te fodem com gosto.
fulano desonesto.

III

as palavras de seu Eliot, as tais, repetidas à exaustão
(pelos outros e ele próprio):
this is the way the world ends this is the way the world ends et cetera.
não é o mundo que se vai, é o indivíduo, sim,
com um gemido e não uma explosão, numa cama que não é nossa,
com gente que não importa e não se importa
e o ceifador, que é só nosso próprio apático corpo,
cansado da brincadeira.

IV

quem sabe, após décadas de exercícios de autoconhecimento
livros de autoajuda viagens de autodescoberta meditação
condicionamento reflexão autodirecionamento masturbação
auto auto ego ego eu eu eu, um dia, depois disso tudo,
você note que não existe eu,
nada a se descobrir - ou nada de fixo -, tudo perda de tempo.
cada passo em direção a si mesmo causa uma mutação,
cada mutação é um passo sem rumo, e o eu vai pra outro lugar,
e a busca segue fútil, e você insatisfeito.
cultive seu mistério interno, eu digo, é mais divertido. ou não.
 
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Essa é uma série de poesias com um tema comum. Mais pode ser inserido.

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