Páginas

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mário Gomes


Mário Gomes era um poeta marginal aqui de Fortaleza. Conhecido como o último poeta maldito cearense Mário Gomes tinha um arquétipo de maluco beleza, embora, já fora lúcido. Poeta voltado para o pornográfico Mário subia e descia nas curvas de Fortaleza lambia as partes intimas da cidade como quem lambe uma ferida com terra. Sua poesia me nocauteou. Passei dias e dias, tentado imaginar de que parte do espaço-quântico a poesia dele nasceu. Conversei com amigos. Nenhum deles conhecia a obra de Mário, mas pesquisei um pouco mais, então, encontrei um amigo escritor que tinha uma antologia de poemas do poeta bêbado. Li reli. Pirei. Mário Gomes é sem dúvida um acontecimento poético. Tive a sorte de ver ele pelo uma ultima vez na praça do Ferreira (fica no centro de Fortaleza). Mário era conhecido por todos ali; muito antes de sua loucura. O poeta Mário Gomes perambulava pelas ruas da cidade, eu perguntava sempre as pessoas: “você alguma vez viu um velho vestido um terno andando pela cidade com a cabeça abaixada?” Alguns sins e, alguns nãos, às vezes eu explicava quem era e às vezes eu só concordava com a pessoa “sim, ele é louco.” Ouvia sempre que, em alguns lugares ele era incomodado (porque as pessoas não tinham ideia de quem era aquele maluco...), quem o reconhecia dava um cigarro uns trocados um litro de vinho e deixava-o ir. Quase levei um soco dele certa vez, mas me justificarei em outra crônica. Mário Gomes morreu no dia 31 de dezembro de 2014. Contemporâneo de vários outros escritores cearenses que sou fã Mário é figura conhecida entre todos os movimentos literários do Ceará. Com tantos escritores morrendo Mário foi único que pensei nas questões do valor/desvalor de sua arte. Tenho medo de gourmetizarem o poeta assim como fizeram com: Patativa, Bukowski, Leminski etc... Homenagear depois de morto não vale, fazer busto e botar em ponto turístico... não sei se é por aí, melhor deixar quieto isso. Vamos para a parte mais importante dessa pseudocrônica que é a poesia de Mário Gomes, a pessoa que era Mário Gomes. Selecionei algumas fotos alguns poemas e um curtadoc que fizeram sobre o poeta andarilho.




Metamorfose


Ontem,
Ao meio- dia,
Comi um prato de lagartas
Passei a tarde defecando borboletas.







Ação Gigantesca


Beijei a boca da noite
e engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
pensando que era a hora do Juízo Final.

Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
e fui descansar na primeira nuvem
que passava naquele dia
em que o sol me olhava assustadoramente.

Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo
.




Ação Gigantesca foi um dos melhores poemas que li na vida. A primeira vez que li esse poema foi como se algo explodisse o universo em zilhôes de pedacinhos. Mário se tornou o ser poético. Ele era a forma que a poesia escolheu para se materializar. Mário conseguiu expressar algo divino fora de qualquer senso. Passei um bom tempo embriagado com essa poesia. Um tempo depois li sua antologia poética agora estou em eterna reabilitação para me recuperar do porre de seus poemas. Me desculpem por ser meio/muito raso, mas a divulgação do poeta cearense para outras pessoas é sempre válida.

  



Um comentário:

  1. Grande poeta. Para quem se interessou, tenho o registrado em vídeo mais alguns poemas de Mário. https://www.youtube.com/channel/UCX6KVDis-Gk7kKk3gwhWb-g/videos

    ResponderExcluir

caixa do afeto e da hostilidade