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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Carolina Maria de Jesus

Olá. Sou a Maria Ferreira do blog Minhas Impressões e uma vez por mês estarei aqui trazendo alguma coisa para vocês. Esse mês de janeiro quase não sai porque eu não fazia a menor ideia do que escrever,  mas o Raphael é uma cara legal e me deu total liberdade. Desse modo, inauguro o meu espaço com uma postagem sobre Carolina Maria de Jesus, porque ela é pouco conhecida e divulgada, mas as pessoas costumam se surpreender quando têm contato com a obra dela.


Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914, na cidade de Sacramento, estado de Minas Gerais. Onde viveu até 1947, quando migrou para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Chegando aqui, foi morar na zona norte da cidade, na extinta favela do Canidé, onde construiu sua própria casa usando papelão, madeira e lata.
Inicialmente, trabalhou como empregada doméstica e por não se adaptar a esse trabalho, passou a ser catadora de papel. Em cadernos que encontrou no lixo, começou a escrever como eram seus dias, a rotina na favela em que morava, em forma de diário.
Foi mãe solteira de três crianças: João José, José Carlos e Vera Eunice. 
"Como é horrível ver um filho comer e perguntar: 'Tem mais?' Esta palavra 'tem mais' fica oscilando dentro do cérebro de uma mãe que olha as panelas e não tem mais".
 "Que suplício catar papel ultimamente! Tenho que levar a minha filha Vera Eunice. Ela está com dois anos, e não gosta de ficar em casa. Eu ponho o saco na cabeça e a levo nos braços. Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços. Tem hora que me revolto. Depois me domino. Ela não tem culpa de estar no mundo".
Em 1958, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas e em 1960 teve seu livro, "Quarto de despejo: diário de uma favelada" publicado. Dizer que foi um sucesso é pouco, o livro teve grande repercussão nacional e internacionalmente. A tiragem inicial de dez mil exemplares se esgotou na primeira semana, foi editado oito vezes no mesmo ano e atualmente se encontra traduzido para mais de treze idiomas. E apesar de tudo isso, que é impressionante, hoje em dia, pouco se ouve e se sabe sobre Carolina. E qual o motivo disso? Não é interessante para as elites que as pessoas fiquem sabem de umas verdades, fiquem sabendo que o descaso social é muito grande e pouco é feito para erradicá-lo.
''O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo,e nas crianças".
Carolina, mulher negra, pobre, da favela, foi um tapa na cara daquela sociedade dominada por autores brancos de classe média. Sua escrita incomodou muita gente e continua incomodando, por isso ela é tão pouco conhecida atualmente, pelo menos no Brasil.
"O mundo das aves deve ser melhor do que dos favelados, que deitam e não dormem porque se deitam sem comer".

Com o sucesso que obteu na época, Carolina comprou uma casa de alvenaria no bairro Alto de Santana e passou a ser convidada para dar palestras em faculdades, em outros estados. Foi aclamada pela crítica e todos queriam conhecer essa mulher, pouco instruída que estava fazendo tanto sucesso. Mas quando morreu em 1977, Carolina já tinha caído no esquecimento e poucas pessoas compareceram em seu enterro.
"Os meninos come muito pão. Eles gostam de pão mole. Mas quando não tem eles comem pão duro. Duro é o que pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos. Dura é a vida que do favelado".
Ano passado foi comemorado o seu centenário e em diversas cidades, principalmente aqui em São paulo, foram realizados diversos eventos em homenagem à Carolina. Eventos nos quais, Vera Eunice, filha de Carolina, esteve presente.
Aqui em São Paulo, a biblioteca do Museu Afro-Brasil foi batizada com o nome dela e seu acervo conta com seus livros que foram traduzidos para outros idiomas.
 ''Será que Deus vai ter pena de mim? Será que eu arranjo dinheiro hoje? será que Deus sabe que existe as favelas e que os favelados passam fome?"


2 comentários:

  1. Que coincidência! Eu nunca tinha ouvido falar dela e no final do ano passado, numa visita ao Rio, fui à Biblioteca Municipal e tinha uma mini-exposição com alguns diários dela. Ficamos lendo por muito tempo. É uma escrita impressionante e uma história de vida que não é pra qualquer um. Acrescentei os livros na minha listinha e espero poder ler em breve!
    Adorei você trazê-la para o blog porque acho que nunca vi ninguém falar sobre ela por aí.

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  2. Hey!
    Bem vinda ao blog do Rafa, adoro os textos dele!
    Maravilhosa indicação de livro. Só pelos pequenos trechos que você deixou aqui pude ver a qualidade e a intensidade do livro.

    Beijos, O Outro Lado da Raposa

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