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sábado, 22 de março de 2014

Spring Breakers [Spring Breakers: Garotas Perigosas] - Harmony Korine (2012)


Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.

O link: https://tinyurl.com/yy394a8y

Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.



Esse filme gerou notícia em 2012, né?, na época do lançamento. Mais ou menos. Acontece que duas das atrizes principais, aparentemente, são ex-estrelas adolescentes contratadas da Disney, Selena Gomez (interpretando a Faith) e Vanessa Hudgens (interpretando a Candy). Um monte de garotas adolescentes, fãs dessas duas atrizes, assistiram esse filme esperando sei lá eu o quê. Eu, nesse caso, sou meio que um oposto. Não faço ideia de quem são essas garotas, mas sei quem é Harmony Korine (ainda não sei se pra minha felicidade ou infelicidade). Sabia bem o que esperar e não fui surpreendido, ao contrário das mocinhas juvenis que tiveram suas infâncias demolidas.

Demonstração do poder feminino, disseram algumas feministas. 
Pra quem não acompanhou a história toda, Spring Breakers (que no Brasil recebeu o "muito necessário" subtítulo de Garotas Perigosas, afinal por que não?) é a história de um grupo de jovens garotas que decidem viajar à Florida, durante o famigerado Spring Break dos EUA. Isso não traduz bem aqui no Brasil, mas lá eles têm um feriadão de primavera que, tradicionalmente, envolve viagens para a Florida, litoral sul do país, assim como o uso de drogas e todo o tipo de putaria que você possa imaginar. Faith (a religiosa, porque só esse nome não seria sutil o suficiente), Candy, Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine, sim, a esposa do diretor), decidem fazer essa viagem. Roubam um restaurante para arranjar dinheiro - exceto por Faith, que é uma moça de deus e nem sabia de nada disso - e se mandam para a Flórida, buscando diversão e liberdade e encontrando algo mais que isso.

A esposa do diretor.
Como eu disse, conheço Harmony Korine. Assisti clássicos como Trash Humpers (Encochadores de Lixo - tradução livre) e Ken Park (o filme com as cenas de sexo não simuladas e a asfixia autoerótica e o assassinato de velhinhos). Com isso eu quero dizer que tô vacinado. Você, menininha juvenil que não sabe do submundo do cinema, sinto muito que você tenha sido desvirginada com essa porra. Mas a culpa foi sua. É isso que dá se meter a ver um filme sem conhecer a obra do diretor. Dizer que esse filme é escroto, violento, cheio de drogas e sexo, é pleonasmo. É isso que o cara faz, ele pega o pior do ser humano e celebra, e transforma em "arte".
Se você é uma das adolescente que caiu na armadilha do filme, é a sua infância que eles estão cheirando.
De início eu estava pensando em ignorar esse filme, justamente por já ter uma ideia do que ele seria. Mas mudei de ideia quando via a forma que ele dividiu os críticos. Os que gostaram diziam que ele apresenta uma crítica social da classe média branca americana, dá poder à mulher, ironiza a cultura pop e a ideia do consumismo desenfreado. Os que não gostaram dizem que o filme é uma bagunça, indeciso, explora as mulheres, é racista e é mais estilo que substância.

É necessária uma legenda aqui?
Vi o filme e concordo com as críticas negativas. Eu até entendo os argumentos daqueles que gostaram do filme. Em alguns momentos, a crítica social parece estar presente, mas, conforme o "enredo" avança, ele mais parece uma celebração a essa cultura de consumo que uma crítica. Uma das resenhas negativas até apontou que a câmera passa pelo corpo das mulheres como uma língua, e eu não vi uma descrição mais precisa que essa até agora, nem pude pensar em nada melhor. É exatamente isso, cenas e mais cenas de corpos passando pra lá e pra cá. Nada contra, algumas das imagens dariam um bom clipe musical, mas chamar de ironia é forçar a barra.


Nem mesmo posso acusar Harmony Korine de ser pretensioso, porque ele está longe disso. Ele é só um cara que desde jovem desenvolveu uma certa visão para o cinema e seguiu com ela independente das críticas negativas ou positivas. Ele faz o que ele quer do jeito que ele quer. E essa é sua única motivação, um Id gigante segurando uma câmera. Harmony quis filmar um grupo de idosos mascarados encochando lixo, cometendo crimes e fazendo merda, foi o que ele fez. Harmony quis filmar um grupo de imitadores indo para uma ilha e fazendo merda, foi o que ele fez. Harmony quis filmar um grupo de adolescentes cometendo crimes e fazendo merda, foi o que ele fez. E ainda capitalizou nos corpos das menininhas da Disney que queriam de alguma forma desligar o nome delas das produções infantis, mostrando que são adultas ao fazerem coisas que adultos fazem, como cheirar cocaína (elas são presas por isso), roubar um restaurante (por algum motivo, não gerou consequências), assassinar uma gangue inimiga por completo usando somente um biquíni, uma máscara e uma metralhadora. Vocês sabem como é, coisa de adulto.
Resumo da obra. Se não me engano foi Godard quem disse que para fazer um filme basta uma mulher e uma arma.
É direito dele, até aí. Se ele quis chocar o grande público fetichizando  figuras pop, bom pra ele. Acontece que o choque é limitado apenas aos que se importam com o que essas atrizes fazem da vida. O resto de nós, muito possivelmente, perceberá que o filme é uma fera sem dentes. É estabelecido bem cedo, quando Faith decide ir embora e consegue, que o caminho que elas estão seguindo tem volta. Não tem perigo, não tem consequência. Se a coisa apertar, vá embora. E o final só reforça essa fraqueza.


Nem tudo é ruim em Spring Breakers, no entanto. Não dá pra dizer que o estilo e o uso das cores não chama atenção. A cinematografia é muito boa, nas mãos de Benoît Debie (outro cara que as adolescentes não conhecem, o homem responsável por filmar a cena de estupro de 10 minutos em Irreversível). A trilha sonora causa dor de cabeça, mas me pareceu intencional, então ponto pro filme. E a atuação do James Franco, embora eu não simpatize nada com ele, é muito boa, surpreendentemente. Reza a lenda que o personagem dele, Alien - que se pronuncia Ay-leen, mas se escreve Alien porque foda-se, então eles continuam pronunciando como se fosse Alien; confuso, né?, pois é, desnecessariamente confuso -, foi baseado no rapper Riff Raff. Na verdade, Riff Raff seria o ator a interpretar esse personagem, mas no fim James Franco pegou o papel e imitou o cara. Riff Raff processou os criadores do filme, mas não deu em nada e não importa, o que eu ia dizer é que a interpretação do James Franco até que é muito boa, principalmente porque o personagem dele é o único que recebe uma personalidade, unidimensional que seja.

Essa cena foi engraçada, eu admito. Quase acreditei em toda história da sátira e da ironia depois dessa.
Com toda essa polêmica, a impressão que fica de Spring Breakers é a de um filme ruim, mas estilizado o suficiente para fazer alguns críticos tirarem sentidos dele que não existem. Não tem crítica. Dependendo da sua experiência cinematográfica, não tem choque. Só me deu uma puta dor de cabeça por causa da música pulsante, todos os moleques gritando, pulando e atirando bebida de baixo teor alcoólico um no outro, e as imagens rápidas e fragmentadas que mais parecem um amontoado de memórias de ressaca. Uma tentativa original, talvez, mas imatura demais pra causar qualquer impacto.

Nota: 2/5 

2 comentários:

  1. Ótimo o seu texto, você escreve muito bem!
    Não entendo muito sobre diretores e as marcas que eles deixam nos filmes, mas é óbvio que cada diretor tem a sua linha e contratar um cara que faz filmes mais adultos, digamos, dai não sairia um filme que um agarota de 14 anos fosse assistir e gostar.
    O público foi atraído a esse filme por causa das estrelas adolescentes. E você elucidou muito bem: esse filme foi para elas um ponto de ruptura com a sua antiga imagem de garotas da Disney e para isso elas precisavam fazer algo drástico, como aparecerem seminuas.
    Não vi o filme, tinha até essa intenção, mas desisti agora. Não vou perder meu tempo tempo vendo pessoas nuas e se atirando bebidas, como você disse. Há filmes melhores para serem apreciados!
    Abraços.
    http://vanille-vie.blogspot.com.br/

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    1. Obrigado. Nem todos os diretores deixam marcas, mas alguns se esforçam pra isso, Harmony Korine é um deles. O próprio admite que não faz filmes para o grande público, então ver um filme dele atingir o mainstream dessa forma é um espanto. Apesar da minha resenha, aviso que ele não é um cineasta ruim, muito na obra dele é interessante (um dia resenho um dos bons filmes dele). Esse foi controverso pelos motivos errados e acabou saindo como um filme fraco, mas ainda assim sugiro que você veja para formar sua própria opinião (sempre, com qualquer filme, por pior que seja). Você pode não gostar, mas acho que vai pelo menos entreter. Eu detestei, mas ri bastante.

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