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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Frances Ha - Noah Baumbach (2012)


Essa vai ser uma resenha diferente porque eu ainda não sei o que achei desse filme. Bom que eu tenho uns parágrafos para enrolar antes de chegar ao veredicto. Antes de qualquer coisa, como sempre, lhes darei a sinopse.

Frances (Greta Gerwig, que ajudou a escrever o roteiro) é uma dançarina em Nova York. Naquele momento ela era só assistente na academia de dança, mas sonhava em desenvolver e dirigir coreografias próprias. No entanto, tudo começa a desmoronar em sua vida. O namorado, pra quem ela já nem ligava muito, terminou com ela; a melhor amiga decidiu casar com seu noivo, mesmo que a relação dos dois seja instável, e a deixa em segundo plano; seus amigos artistas, que nunca são vistos fazendo arte, também têm mais o que fazer, como ir à festas e foder desconhecidas; e seu trabalho já não precisa tanto dela, exceto que ela aceite um emprego não-criativo de recepcionista.


O grande mal que veio já da geração anterior a minha e está aí até agora é o dilema: "o que eu vou fazer da minha vida." Sério, não conheço ninguém que tenha nascido entre 68 e 94 (potencializando a partir do fim da década de 80) que não tenha passado noites em claro com esse questionamento. Obviamente, é essa dúvida que serve de combustível para nossas criações - aqueles que se dão a criar coisas. É o caso de Noah Baumbach e centenas de outros artistas, em todos os campos artísticos. Por isso tantos filmes e livros lançados na década de 00 e na de 10 (sim, estamos nos anos 10 de novo) tratam disso. 


Eu mesmo simpatizo com esse dilema, não sou diferente. Mas a Frances me deixou puto. Sério, durante uns 45 minutos de filme, a desprezei como personagem, mesmo que eu pudesse compreender aquilo que a angustiava. Vou dar um exemplo pessoal pra que eu não soe babaca. Quero ser escritor, não é segredo pra ninguém, é um sonho meu. Claro que eu gostaria de passar meus dias trabalhando com a escrita, mas não dá. Tenho conta pra pagar, condomínio, luz, internet, supermercado, enfim a vida é dura. Não tenho quem pague isso por mim, mas, mesmo que tivesse, o ponto chave aqui é que eu não sou tão indecente a ponto de permitir que alguém me sustente, não na altura dos meus 22, quase 23, anos de idade - só pra constar, Frances tem 27.

Mas o problema aqui ainda não é só ser sustentado. Isso acontece, temos altos e baixos. Ela perdeu o emprego. Verdade que logo em seguida a própria empresa a ofereceu uma vaga na recepção, que ela recusou por se achar importante demais pra isso - outro mal dessa geração, achar que vai começar de cima, pode sonhar minha criança, cargo alto não vai cair no teu colo e, acredite, se caísse, você não ia saber o que fazer com ele tendo só uns diplomas e nenhuma experiência. De qualquer forma, acontece. Só que a garota decide ir pra Paris em uma cena, assim, do nada. E chegando lá, dorme. Vê se não dá vontade de matar uma dessas.


Só que isso não deveria prejudicar o filme. É um estudo de personagem, e é fato que, por isso, um personagem desagradável prejudica a trama, mas esse é o objetivo, eu acho. A ideia é mostrar uma garota iludida com seu próprio potencial e planos de futuro, só para que ela aprenda a aguentar a queda de tudo. E tudo cai e ela é obrigada a virar gente. Foi a partir daí que eu aprendi a gostar da Frances. Ainda acho que o fim foi uma mentira, mas eu não quero estragar a obra pra ninguém.

Uma coisa é inegável, Frances Ha é tecnicamente impecável. O preto e branco se encaixa perfeitamente com o tom Nouvelle Vague que o retrato dessa nova boemia - um pouco burguesa demais pro meu gosto - quer passar. As atuações são excelentes, até dos personagens menores, muito embora todo o destaque vá pra Greta Gerwig, excelente atriz da qual nunca tinha ouvido falar antes. Que foi? Detestei a personagem dela, é por isso mesmo que digo que ela interpretou perfeitamente, se fosse mal feito, me teria sido indiferente.


Ainda não me posicionei quanto a esse filme. É mais que claro que gostei, do contrário não teria perdido tanto tempo tentando entendê-lo corretamente. Ainda assim, certas partes - principalmente o fim - são idealizadas. Sim, a Frances sofre, mas só por 15 minutos. As outras personagens também dão sinais de mudança, mas sempre voltam atrás. Dito isso, o enredo que me desagrada pessoalmente é apenas uma parcela do filme, enquanto a obra por completo é extremamente competente.



Deixando todas essas dúvidas de lado, afinal não é importante, indico esse filme. É identificável, principalmente se você está alcançando a maioridade ou vivendo seus vinte e poucos, nem que seja como um guia do que não fazer. Minhas discórdias, fortes que fossem, não atrapalharam a experiência do filme, na verdade nem pude me distrair para pensar nessas coisas, elas só vieram depois do fim, quando tive que racionalizar tudo para preparar a resenha. Outra coisa, me interessei muito pelo trabalho do Noah Baumbach. Ele já tem uns 3 filmes no currículo, além de Frances Ha, todos bem elogiados, mas nunca tinha ouvido falar dele antes. Um filme que, goste ou não, fica na sua cabeça, e só isso já garante alguma qualidade.

Nota: 4/5

2 comentários:

  1. Haha, ri em umas partes com a tolice da personagem, pricipalmente, quando falou que é preciso pagar contas, realmente, não tá nada essa vida de artista. rs.
    A resenha não deixou de expressar sua opinião foi divertida, e com certeza deixou um ar de vontade para assistir esse filme. :D

    caminhandoemmarte.blogspot.com.br

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  2. Olá, primeira vez que ouço falar do filme e como não me identificar com o filme e a resenha (nascida em 92 haha), tenho 21 anos, estou largando o segundo curso na faculdade e procurando um emprego já que não quero (nem meus pais pretendem) ser sustentada por meus pais para sempre. Acho que esse filme veio parar aqui na hora certa .-. , vou assistir e ver se odeio tanto a personagem ...!

    www.moniitorando.blogspot.com

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