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sábado, 10 de agosto de 2013

Vagabundos Iluminados - Jack Kerouac (1958)

Não consegui achar nenhuma foto da edição nacional da L&PM em boa resolução...Então vai essa, já que eu não tenho câmera pra tirar foto do meu livro.
Ray Smith (alter-ego de Jack Kerouac, nesse livro, já que ele foi impedido pela editora de usar sempre os mesmos nomes para os personagens reais de suas histórias) é um vagabundo poeta que, em suas várias viagens escondido em trens pelos Estados Unidos, encontra o hippie monge budista poeta vagabundo gênio Japhy Ryder (baseado no poeta e ensaísta Gary Snyder, tanto que o autor "erra" o nome do personagem em um momento da história, usando seu nome real). Impressionado pela figura de Japhy, Ray tenta se unir ao mundo dele, cheio de jazz, poesia, álcool e a busca pelo Nirvana. Não seguindo nenhuma forma regular de enredo, pulando de acontecimento em acontecimento, sem seguir qualquer ordem lógica.

Vagabundos Iluminados é o On the Road zen-budista de Jack Kerouac, mostrando uma maior maturidade do autor, ao mesmo tempo que um leve desgosto pela sua própria vida e imperfeições. Ray Smith descreve os bares de jazz que ele frequentava, os saraus poéticos dos quais ele timidamente fazia parte, suas orgias e viagens pelo mundo, assim como seus amigos na época, que formavam a geração hoje conhecida como Beat. Além disso, mostra os conflitos religiosos internos de Kerouac, que estava apaixonado pela visão budista do mundo, mas preso às suas origens católicas e, portanto, enterrado pela culpa.


Nesse livro, é visível o que Kerouac chamava de prosa espontânea, escrita de forma contínua, cheia de adjetivos e sempre flertando com a poesia. Como muitos sabem, o autor escrevia em grandes rolos de papel, pra que não fosse interrompido pelas trocas de páginas que a máquina de escrever exigia, assim sua escrita era como um longo momento de meditação, com pouquíssimas pausas e buscas pelas palavras certas. A palavra certa, na obra de Kerouac, é a palavra que vem, simples como a inspiração inexplicável. Isso também justifica as frases e os parágrafos enormes (muitas vezes mais de uma página), que pode atrapalhar a leitura, mas é tudo uma questão de ritmo, era assim que a mente de Kerouac funcionava e é trabalho do leitor se adaptar ou jogar a toalha, tornando a prosa espontânea uma versão mais poética do fluxo de consciência.

Não é uma leitura rápida e fácil, mas não chega a ser complexa, só fica pesada em certos pontos, mais especificamente no final, quando já se está quase sem fôlego. Alguns críticos dizem que é um livro inapto e sem qualquer entendimento das bases do budismo, mas essa era a ideia. Kerouac não se encaixava entre os beats, e isso se tornou óbvio no fim de sua vida, quando ele se entregou ao conservadorismo político, ao desprezo contra os hippies que o cercavam (seu velho amigo Allen Ginsberg incluso nesse meio) e à bebida. Ele queria encontrar a tal iluminação da qual todos falavam, mas não conseguia. No entanto, ele já não se via entre os católicos de sua família. Ele estava perdido naquela loucura, sem necessariamente entendê-la, mas sem ter para onde ir, e por isso Vagabundos Iluminados é um livro perdido, mas que a todos os momentos busca alguma coisa. Alguma coisa que ele não sabe o que é, mas parece perto. Um livro desesperado, desesperador e difícil de compreender, justamente porque nem ele se compreende.

Nota: 4/5 

Um comentário:

  1. Comecei a ler esse livro uma vez e senti muito esse "peso" da prosa espontanea do Kerouac. Era um gênio, mas bem à sua maneira...

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