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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Blow Out (Um Tiro na Noite) - Brian De Palma (1981) - Resenha


Quando era criança, muitos anos atrás, e meu interesse pelo cinema estava começando a despertar, passei a procurar filmes antigos e clássicos nas locadoras que eu frequentava, alguns eram até sugestões dos meus pais na época. Um deles foi um dos principais filmes de dança da história "Nos Embalos de Sábado a Noite" (ou Saturday Night Fever). Na época eu detestei o filme e desenvolvi um certo desprezo pela música disco - eu era uma criança esperta -, também não tinha gostado nem um pouco da atuação do John Travolta, embora eu não entendesse muito disso naqueles tempos. Anos depois, vi de novo o filme e percebi que tem muito mais nele, além da música disco, que eu não fui capaz de entender, e John Travolta é um excelente ator - vide Pulp Fiction e Blow Out.
 
O filme começa com cenas de um típico exploitation de baixo orçamento, resumindo em cinco minutos todos os clichês do gênero. Então a atriz da um grito inaceitávelmente ruim e somos apresentados a equipe responsável pelo filme. Jack (Travolta) é técnico de som da equipe e se compromete a corrigir esse problema. Na mesma noite, ele sai para gravar sons da natureza - vento, trovões, corujas, e por aí vai. No meio da gravação, ele presencia um acidente, o pneu do veículo fura, o motorista perde o controle e o carro cai no lago sob a ponte na qual ele fazia seu trabalho. Ele mergulha para resgatar os passageiros, mas só consegue salvar um deles, Sally (Nancy Allen). Ele a leva ao hospital, ela se recupera e surge uma atração entre os dois. O possível romance é interrompido por dezenas de jornalistas e policias que avisam Travolta que o cara que ele não conseguiu salvar é o favorito para a eleição presidencial. Jack escuta a gravação da noite do acidente e percebe que tudo pode não ter sido um acidente, o que leva ao filme de verdade.
 
A primeira vista pode parecer com um filme suspense/conspiração padrão, mas não é bem assim. É um filme que coloca os personagens a frente da conspiração em si. Os diálogos são muito interessantes e o enredo explora os diferentes sentimentos que um caso desses pode gerar em um ser humano. É um filme de suspense que gera questionamentos além do velho "quem foi o culpado", esse mesmo nem é explorado - o assassino já é mostrado logo nas primeiras cenas.
 
Outra coisa que foge do clichê é o relacionamento entre Jack e Sally. Eles estão profundamente atraídos um pelo outro, mas não é esse amor absurdo e instantâneo que a indústria do entretenimento insiste em mentir dizendo que existe. Jack é só um cara normal, tentando sair com essa garota que ele salvou, sobre a qual ele não sabe nada - e nem sabe se quer mesmo conhecê-la melhor. Sally queria fugir da coisa toda, da culpa gerada pelo pequeno e inocente envolvimento que ela pode ter tido com o incidente.
 
Muito interessante a forma que o cinema e a mídia são abordados, embora muito sutilmente. Os produtores não se interessando nem um pouco pelos problemas de Jack, interessados somente no grito para terminar o filme - grito que Jack não para de procurar tampouco - e a mídia querendo apenas uma manchete sensacionalista para os seus jornais.
 
Blow Out é um excelente filme, com um final surpreendente, muito diferente dos outros de seu gênero. Faz justiça a filmografia de Brian De Palma que, pra quem não sabe, fez Carrie, Scarface, Os Intocáveis e Missão Impossível.
 
Nota: 4,0/5,0
 


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