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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Desfile de Páscoa - Richard Yates (Resenha)



Esse livro me foi sugerido no meio do ano passado por um cara que trabalha no único sebo de Itajaí, o Casa Aberta, que é talvez o lugar mais fascinante da cidade. Estava comprando uns clássicos antigos baratos, quando ele apareceu e me sugeriu Richard Yates, lendo pra mim a primeira frase de Desfile de Páscoa, para atrair minha atenção:

"Nenhuma das irmãs Grimes teria uma vida feliz e, olhando em retrospecto, sempre pareceu que o problema começou com a morte de seus pais."

Até hoje, essa é uma das melhores primeiras frases que eu já li e, desde então, tento seguir as sugestões desse cara que se chama Enzo e mantém um blog muito interessante sobre literatura do sul dos Estados Unidos - que não sei se ainda está na ativa, ele tinha parado, mas acho que agora voltou, sei lá, mas as informações estão ali ainda -, como por exemplo Flannery O'Connor, que eu comprei, mas ainda não deu tempo de ler.

Quanto a Yates, após escrever "Foi Apenas um Sonho" - que eu já li e assim que eu ver o filme farei uma resenha comparativa, igual ao post sobre Bonequinha de Luxo, que é o meu post mais popular por causa da foto da Audrey -, foi considerado um dos mais importantes escritores americanos de seu tempo. Então anos se passaram até sua segunda publicação e, como ele não continuou criticando a geração da década de 60 especificamente, nem se tornou politicamente engajado, acabou sendo esquecido. O que é uma pena, considerando que ele continuou sendo um dos melhores escritores norte-americanos.

Como a primeira frase do livro deixa bem claro, Desfile de Páscoa é sobre a vida das irmãs Grimes, suas decisões, erros e problemas. Nada além disso, o livro é um retrato bem cru da vida comum. Sarah, a irmã mais velha, casa cedo e se rende à vida de dona de casa. Emily, a mais nova, decide ser independente, seguir carreira em alguma coisa, sem depender de ninguém. Exatos opostos que buscam um mesmo objetivo - viver de forma satisfatória, seja para si ou só para mostrar à sociedade ao seu redor.

Emily tenta, mas parece não conseguir encontrar um homem que a satisfaça plenamente, ou satisfazer um homem plenamente, dependendo do caso. Enquanto Sarah, finge ter encontrado a felicidade, assistindo sua vida passar aos poucos, embriagada.

Não é um romance leve, para passar o tempo, embora a linguagem seja simples e a forma nem um pouco pretensiosa. Só que não é um livro que tenta ensinar ao leitor como viver; poderia até dizer que nem mesmo o autor sabe o que quer. Emily e Sarah são opostos completos, mas nem por isso uma delas alcança a felicidade. Elas buscam da melhor forma possível, pensam ter chegado perto, então a verdade lhes acerta com tudo.

O narrador tem um tom sarcástico e, em alguns momentos, até humorístico quanto às histórias que ele relata, mas ao mesmo tempo mantém um certo respeito e simpatia por aquelas vidas destruídas. Ele sabe que sua vida não é diferente da de suas personagens; sua história é um espelho cruel e realista. Às vezes você ri, às vezes você encontra um conhecido e, nos momentos mais angustiantes, você vê a si mesmo.

Excelente livro. Richard Yates é um dos melhores escritores americanos e é uma pena que ele não tenha sido reconhecido em vida o tanto quanto merecido, embora ache que ele estava pouco se fodendo para isso.

Nota: 5,0/5,0

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